Frederico M. Stacchini
A edição do Valor Econômico de ontem (07/04/2009) tratou das operações de derivativos realizadas pela Sadia ao longo do ano de 2008, que levaram essa empresa a somar prejuízos da ordem de R$ 2,5 bilhões. Segundo apresentado na reportagem, o relatório preparado pela consultoria BDO Trevisan e apresentado aos acionistas revelou que a Sadia realizou um total de 133 operações de derivativos, todos na modalidade mais arriscada. Desse total, 28 teriam sido realizadas sem que os diretores observassem a política de risco da empresa – que limitariam seus prejuízos a R$ 650 milhões – e sem o conhecimento do conselho de administração. Uma delas inclusive no valor de US$ 1,4 bilhões, fechada em setembro, pouco antes do início da crise financeira global.
Agora, em vista dos fatos apresentados, os controladores da Sadia decidiram processar seu ex-diretor, Adriano Lima Ferreira, por ter sido o responsável pela contratação das operações de derivativos de risco elevado e, conseqüentemente, pelos prejuízos causados à Sadia. Segundo informações da edição de hoje (08/04/2009) do Gazeta Mercantil, o ex-diretor assegura que informava mensalmente ao conselho de administração as operações de derivativos que realizava, inclusive se reportando diretamente ao presidente do conselho.
Os diretores são profissionais contratados pelas empresas para conduzir os seus negócios, dando efetividade às políticas e orientações do conselho de administração. É inerente às funções dos executivos assumir riscos. O perfil de atuação e a tolerância ao risco de cada executivo também varia de profissional para profissional. No entanto, em que pesem as diferenças e visões de cada um, é de se esperar que, antes da tomada de decisão de investimento, os executivos contraponham e coloquem em debate - inclusive com os demais administradores - os investimentos que desejam realizar, e verifiquem se os benefícios de tais investimentos superam os custos de sua realização. O conselho de administração, por sua vez, tem a função de fiscalizar as atividades dos diretores e conferir se estes estão atuando de acordo com a política estratégica traçada, inclusive alterando e revisando a orientação dos negócios, de acordo com as necessidades de mercado.
Ao que tudo indica, as operações de derivativos tiveram como válvula propulsora a vaidade do ex-diretor, que buscava, por meio de tais operações, trazer retornos rápidos para a Sadia e seus acionistas, de modo a afirmar sua posição como profissional competente e de renome no mercado. Quando os prejuízos começaram a aparecer, ao invés de buscar alternativas que minimizassem tais prejuízos, realizou novas operações de derivativos, o que pode ser interpretado como ato de desespero de alguém que, tomando consciência dos erros cometidos, busca minimizar seus efeitos e apagá-los de sua própria estória. Mas já era tarde.
A atuação dos membros do conselho de administração também deixa a desejar. Primeiro porque, de acordo com o ex-diretor, Adriano Lima Ferreira, os membros do conselho de administração sabiam das operações e dos riscos que estavam sendo assumidos. Segundo, porque o desconhecimento das operações não os isenta de culpa, já que, na qualidade de administradores, são remunerados para representar os interesses dos acionistas na gestão da empresa e, dentre outras atribuições, fiscalizar a gestão dos diretores, dispondo, inclusive, de livre acesso a livros e documentos da empresa.
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